Efeitos ortopédicos e cardiológicos da AIDS


Como um dos efeitos da AIDS é a aceleração do envelhecimento, os pacientes apresentam uma idade biológica pelo menos 10 anos maior que a idade cronológica, e assim os infartos precoces e também as fraturas como decorrência da osteoporose costumam aparecer mais cedo. Este tema e a consequente multidisciplinaridade da AIDS serão discutidos durante o Congresso Paulista de Infectologia, que acontece de 21 a 24 de maio, no Hotel Bourbon, em Atibaia.

"A circuncisão como medida de prevenção da AIDS no homem, a medicação preventiva para o casal sorodiscordante (em que apenas um parceiro tem o HIV) e a profilaxia após exposição ao risco (no máximo 72 horas após a potencial contaminação)" são outros temas da maior importância que o Congresso vai abordar, explica o infectologista Adilson J. C. Cavalcante, da diretoria da SPI e professor da Faculdade de Medicina do ABC.

Para o especialista, este é o momento para a reciclagem do conhecimento sobre a AIDS, à luz das mais avançadas pesquisas, que serão debatidas no evento, e esse conhecimento extrapola a Infectologia, é importante para várias outras especialidades.

"Todo mundo fala sobre a possível cura da AIDS, por exemplo, e acreditamos que um dia poderá ser efetivamente curada", diz ele, “mas o horizonte que prevemos é de pelo menos uma década, apesar dos dois casos pontuais conhecidos e divulgados".

No momento, a preocupação dos infectologistas é que “não se baixe a guarda contra o HIV, que não se perca o medo da doença, como infelizmente parece que a parcela jovem da população está perdendo. Afinal, há 33 milhões de pessoas com AIDS no mundo, 750 mil no Brasil, onde calcula-se que 300 mil vivam com o vírus sem que tenham sido diagnosticados. E só entre os adolescentes, 12 a 24 anos, há 65 mil casos notificados. De acordo com o DATASUS são 3500 casos notificados a cada ano nesta faixa etária.
E para vencer a epidemia, o Congresso vai discutir a fundo três temas de prevenção, e inclusive definir uma posição para cobrar atitudes do governo.

TRÊS TIPOS DE PREVENÇÃO
O primeiro tema é a profilaxia após exposição ao risco, já adotada pelo Ministério da Saúde e aplaudida pela SPI. Ela consiste em levar à população o conhecimento de que, tendo havido relação sexual com um soropositivo, é preciso procurar o médico e tomar a medicação indicada até 72 horas após o ato sexual, o que é eficaz em 99% dos casos.

A segunda medida de prevenção é a circuncisão masculina, testada na África com mais de 10 mil homens e que, segundo relatos científicos, reduziu sensivelmente a transmissão do HIV na Uganda e África do Sul. A SPI vai discutir este tema e se existe espaço para que esta medida seja adotada por parte das autoridades públicas no Brasil.

A terceira medida é a profilaxia pré-exposição de casais sorodiscordantes, para evitar que o parceiro soronegativo se contamine. Nesse caso igualmente os infectologistas vão firmar posição à luz da literatura existente e cobrar uma definição do Ministério.

Essas medidas devem se somar às campanhas pelo uso do preservativo que, segundo o diretor da SPI, não devem se concentrar apenas em datas específicas, como o Carnaval.  Medida importante para os infectologistas continua sendo a informação, a difusão do conhecimento sobre a doença, os problemas que causa, a necessidade da medicação constante dos contaminados e o conhecimento de que não é simples como tomar uma pílula todo dia, mas que contraído o HIV, o paciente passa a viver a necessidade constante do acompanhamento, do tratamento, e embora com a qualidade de vida que a evolução das drogas permite, terá um ônus cujo peso há de sentir durante todos os anos que lhe restarem de vida.