Doença de Chagas e Transmissão Oral serão temas do Congresso de Infectologia


Ministério registra 926 casos na Amazônia, a maioria decorrente da ingestão de suco de açaí e cana processados sem higiene

O Congresso Paulista de Infectologia, que começa dia 21 de maio, no Hotel Bourbon de Atibaia, incluirá uma mesa-redonda sobre a doença de Chagas e também sobre a transmissão oral que cresce na Amazônia e tem sido registrada igualmente em Santa Catarina, oito anos depois da transmissão vetorial pelo Triatoma Infestans, o barbeiro, ter sido considerada oficialmente erradicada pela Organização Panamericana de Saúde.

Para o infectologista Juvencio Furtado, coordenador científico da SPI, cresce a preocupação com a transmissão da forma aguda da doença, também por causa da Copa do Mundo, que trará ao Brasil 600 mil estrangeiros, "certamente ávidos por experimentar os alimentos típicos nacionais, entre os quais o caldo de cana e o suco de açaí", que tem sido os maiores responsáveis pela transmissão recente do tripanossoma.

Furtado explica que com o fim das casas de pau-a-pique cobertas de palha, a OPAS comprovou que o barbeiro não mais vive na cobertura e na parede das residências, que era feita de folhas de palmeira açaí e de barro. "Acontece que o inseto se multiplica também no tufo da cana-de-açúcar e na palha das palmeiras e quando os cachos de açaí e os talos de cana são moídos sem a devida higienização", insetos contaminados são processados com o suco que, ingerido, provoca a forma aguda da doença.
A prova do risco existente é um caso de uma fazenda na Paraíba, onde 26 pessoas que participaram de um evento foram contaminadas simultaneamente, e várias evoluíram para óbito.

PESQUISAS CONFIRMAM
Esse caso foi objeto de estudo pela professora Maria Aparecida Shikanai Yasuda, titular de Infectologia da Faculdade de Medicina da USP e que vai dirigir a mesa redonda marcada para as 10 horas de 24 de maio, no Congresso da SPI.

A professora Shikanai é também autora de uma tese sobre a Doença de Chagas nos migrantes bolivianos de São Paulo e o debate incluirá a transmissão de Chagas pela transfusão de sangue, pela amamentação e mesmo pelo transplante de órgãos.

O interesse pela mesa-redonda é muito grande, garante Juvencio Furtado, porque apenas no Brasil calcula-se que ainda existem 5,5 milhões de chagásicos e a doença já é registrada tanto na Europa como nos Estados Unidos, levada pelos milhões de imigrantes provenientes da América do Sul.

O especialista acha vital divulgar informações sobre a Doença de Chagas inclusive internacionalmente, porque é necessário fazer a prevenção entre os torcedores estrangeiros que vierem, e também para que quando os médicos do exterior se depararem com casos, tenham em mente que os sintomas que detectam podem ser da doença da qual tem pouco ou nenhum conhecimento" e que é de tratamento multidisciplinar, haja vista a cardiopatia chagásica, problema enfocado pela Cardiologia".