Infectologistas devem liderar a disseminação do I = I

Há quase 10 anos, a comunidade científica internacional teve acesso aos resultados parciais do primeiro grande estudo que se propôs a avaliar o impacto do tratamento das pessoas que viviam com HIV na transmissão sexual desse vírus. Naquele ano, o estudo HPTN 052 demonstrou que, depois de acompanhar pouco mais de 1.700 casais sorodiferentes, por cerca de 5 anos, não houve transmissão do vírus para a parceria soronegativa enquanto o indivíduo que vivia com HIV se manteve sob o tratamento antirretroviral com a carga viral indetectável no sangue.

Depois dele, outros estudos como Partner e o Opposites Attract, encontraram o mesmo resultado, independente da prática sexual realizada, da ocorrência de ejaculação e da presença de outra infecção sexualmente transmissível concomitante. Com isso, depois de reportadas mais de 100 mil relações sexuais sem preservativo entre casais sorodiferentes indetectáveis, acumulou-se evidência científica robusta o suficiente para podermos afirmar que uma pessoa Indetectável é realmente Intransmissível (I = I).

Apesar disso, médicos de diferentes especialidades têm conhecimento heterogêneo sobre o conceito de I = I ou se apropriam de maneira diferente dele para tomar condutas em sua prática clínica. Dessa forma, influenciam diretamente na vida de seus pacientes muitas vezes não se baseando para isso no conhecimento científico mais atualizado.

A hipótese de que médicos que não trabalham com HIV e infectologia estão menos familiarizados com o I = I motivou a realização de uma pesquisa com profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. Um questionário com perguntas, que foram tanto objetivas sobre o tema quanto baseadas em casos clínicos fictícios de casais sorodiferentes, está sendo aplicado para médicos clínicos gerais, médicos de família, infectologistas, ginecologistas e urologistas em diferentes momentos de suas carreiras. O resultado desse estudo será importante, pois poderá ajudar na melhora da educação médica oferecida para os profissionais ainda em fase de formação, em especial, aos que vão atuar no cuidado da saúde sexual e reprodutiva.

Acredita-se que os infectologistas devem ser os que mais dominam a prevenção do HIV e, por isso, podem funcionar como disseminadores dessas informações para os colegas de outras especialidades, principalmente aqueles que já terminaram sua formação acadêmica. Saber que o Indetectável é Intransmissível é um direito de todas as pessoas que vivem com HIV no mundo e os médicos que atendem essas pessoas são os principais responsáveis pela garantia desse direito.

Ricardo Vasconcelos é médico infectologista da FMUSP, coordenador do serviço de PrEP do SEAP HIV e coordenador clínico do Projeto de PrEP Injetável de Longa Duração (HPTN083)





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