Vigilância e controle da resistência microbiana é tema do 11º Congresso Paulista de Infectologia

Do dia 17 a 20 de outubro ocorreu o 11º Congresso Paulista de Infectologia e no primeiro dia um dos temas que tiveram mais destaques foi sobre vigilância e controle da resistência microbiana. Palestrada por Denise Brandão de Assis, Hajo Grundmann e Silvia Munõz-Price, a Mesa Redonda preparada para a discussão contou com a experiência própria de cada especialista, ilustrando assim o cenário brasileiro, europeu e americano da resistência microbiana.

O que acontece no Brasil?

A especialista Denise Brandão de Assis conta que São Paulo tem grande importância nos dados nacionais de resistência microbiana, já que 40% dos hospitais analisados pertencem ao estado. Entre os números apresentados, é possível notar que quase todos os microrganismos possuem uma taxa ascendente de resistência, tendo um aumento significativo entre o período de 2005 a 2017.

Em 2016, o estado de São Paulo publicou um plano estadual para o controle de bactérias multirresistentes, com o foco na vigilância epidemiológica para a prevenção de infecções hospitalares, premeditando a resistência microbiana. Foi elaborado um questionário para levantar quais os maiores problemas enfrentados pelos hospitais, para decidir quais as medidas de intervenção deveriam ser implantadas. Foram destacados problemas na manipulação de cateter, higiene de mãos e curativos, que apresentaram baixas porcentagens nas observações.

Após as medidas serem implantadas, houve uma redução das taxas de infeções de 6.3 para 5.1 por 1000 cateteres-dia. Os especialistas concluíram que, para os hospitais que tinham taxas altas de infecções, a redução foi muito maior do que quando comparados à hospitais com taxas mais baixas de infecções, abaixo de 2 por 1000 cateteres-dia. Embora não exista um dado que comprove, foi deduzido que os hospitais com baixas taxas de infecções sejam mais difíceis de intervir do que aqueles com maiores taxas.

“Dentro do estado de São Paulo, os hospitais que participam do sistema e de projetos têm uma tendência maior na redução das taxas de infecção de corrente sanguínea, por exemplo, chegando em 2017 com a mediana de 2.9 por 1000 cateteres-dia. Outro projeto que nós trabalhamos a bastante tempo é o “Mãos Limpas São Mãos Mais Seguras”, a ideia desse projeto é implantar a estratégia da Organização Mundial de Saúde para a higiene correta das mãos”, conta a especialista Denise Brandão de Assis.

Resistência microbiana: Europa

O especialista Hajo Grudmann, professor da University of Nottingham, no Reino Unido e presidente da Infectious Diseases Epidemiology na University of Groningen, na Holanda, conta como é feita a resistência microbiana na Europa.

Assim como medimos a obesidade com um cálculo matemático, o IMC, devemos transformar as informações sobre resistência microbiana em números para entender quais dados devem ser coletados. Existem vários profissionais que possuem interesses nesses números, como os médicos, cientistas, pesquisadores, financiadores e a indústria antibiótica. Além disso, existe uma estimulação das políticas públicas europeias para que essas informações sejam coletadas para haver uma comparação de informações sobre as infecções com outros países.

“Quero mostrar que a vigilância não é fácil, temos que ter cuidado não só para instalar um instrumento que gere números. Porque não há nada de novo e a cada ano produzimos os mesmos dados. Então, eu me preocupo em mudar o sistema para a intervenção, ao invés de apenas produzir essas informações para o ministério. É isso que a WHS (Saúde e Segurança no Trabalho) tenta fazer e é isso que estamos fazendo também. Mas só isto não é suficiente. Meu alerta é para ajudar a decompor esses dados em tarefas simples e tornar os números fáceis e úteis para aqueles que realmente podem controlar o problema. Basicamente, não devemos ter medo de configurar um sistema de vigilância, apenas tornar mais fácil e gerenciável, é fácil de fazer, mas podemos ser ambiciosos demais”, finaliza o especialista.





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