Epidemias de fake news: uma vacina é necessária


A Aids foi criada em laboratórios para dizimar homossexuais. Vacina contra sarampo causando autismo. Haitianos trazendo o Ebola para o Brasil.  Lendas urbanas e notícias falsas sempre existiram, mas sua circulação ganhou proporções inusitadas com o advento da internet e das redes sociais.


Um aspecto surpreendente na dinâmica de transmissão das fake news é o misto de credulidade e desprendimento que leva as pessoas a compartilharem informações forjadas sem nenhuma preocupação em checar as fontes. Em parte, isso se deve a uma teoria da conspiração latente no inconsciente coletivo.  Acrescentar “o governo está escondendo as mortes” na menção a qualquer doença infecciosa (ex.: influenza ou febre amarela), ou incluir “a indústria tem interesse de lucrar fortunas” em um parágrafo sobre vacinas são fórmulas garantidas para convencer o sempre desconfiado cidadão.


Seria apenas engraçado, se não fosse trágico. Mas o fato é que fake news não são inócuas. No Brasil, notícias de que a microcefalia era causada pela vacina tríplice viral causaram significativo declínio na cobertura contra sarampo, caxumba e rubéola no Nordeste. Informações de caráter científico questionável culparam os larvicidas (importante linha de combate ao Aedes aegypti) pelas manifestações fetais do Zika Vírus e receberam a adesão apressada (e impensada) de diversos ambientalistas. Há diversos exemplos semelhantes em todo o mundo. Em comum, esses rumores levam a uma desconfiança na ciência e nas medidas racionais de prevenção e controle de doenças. O movimento anti-vacinal é um dos mais ruidosos geradores de notícias falsas, prejudicando campanhas essenciais para prevenir moléstias graves e epidemias.


Precisamos de uma “vacina” contra as fake news. Para desenhá-la, há que se ter em mente que o distanciamento entre a população, as autoridades de saúde pública e os pesquisadores torna a coletividade vulnerável às redes sociais digitais, competentes vetores de informações inconsistentes. Sociedades de especialistas, como a SPI, devem desempenhar importante papel de reaproximar as pessoas da ciência, divulgando informações de forma clara e orientando sobre a prevenção das doenças infecciosas.


 

Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza - Professor Adjunto - Departamento de Doenças Tropicais Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp




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