Nota conjunta sobre a reportagem da revista Época sobre PrEP

O Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, sede da Coordenação do Programa Estadual de IST/Aids de São Paulo, a Sociedade Paulista de Infectologia e o Departamento de Moléstias Infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, vêm a público se posicionar sobre a reportagem de capa da revista Época de 2 de abril de 2018, sobre a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP).

A PrEP, uma importante e eficaz medida no combate à epidemia de HIV/Aids, foi consolidada cientificamente em 2010. Está disponível desde 2012 nos Estados Unidos e recomendada pela OMS em 2015.

Uma grande pesquisa nacional foi realizada pelo CRT DST/Aids, USP e Fiocruz do Rio de Janeiro, chamada PrEP Brasil, avaliou sua adoção em mais de 500 homens gays e bissexuais, mulheres trans e travestis, com resultados muito encorajadores, reafirmando a receptividade e adesão à PrEP em nosso meio. Mostrou também que a adoção da PrEP não reduziu o uso de camisinha, não aumentou a ocorrência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e se associou a uma redução do número de parceiros sexuais.

Em resposta ao sucesso, o Brasil passou a adotar a PrEP como medida de saúde pública pelo SUS, indicada para várias pessoas sob risco aumentado de aquisição do HIV. Além disso, vários centros brasileiros estão envolvidos em outros estudos nacionais e internacionais para garantir uma contínua e detalhada avaliação desta nova política pública.

Infelizmente, fomos negativamente surpreendidos pela reportagem da Revista Época. Além de cometer graves equívocos já na capa da revista, a matéria compromete o esforço de educação da população sobre as características da epidemia brasileira, estigmatiza grupos mais vulneráveis e pessoas que vivem com HIV.

Não é correta a relação causal apresentada entre uso de PrEP e aumento de infecções sexualmente transmissíveis (IST). Ao contrário, a relação entre IST e PrEP tem sugerido que aderir à PrEP está associado a redução de outros fatores de risco e aumento da conscientização sobre prevenção. A reportagem também peca ao levar a crer que os altos índices do HIV entre homens gays, bissexuais e pessoas trans e jovens são, sobretudo, uma questão de responsabilidade individual. Em nenhum momento, considera-se que a exclusão social causada pela homofobia e transfobia é o principal fator da vulnerabilidade ao HIV vivida por esses grupos em todo o país. Por fim, comete grave erro ao confundir profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP) com PrEP, duas medidas diferentes de prevenção.

A reportagem vai em direção oposta aos esforços da luta contra a epidemia de HIV/Aids. Contribui para aumentar a marginalização de gays e bissexuais e, consequentemente, aumentar sua vulnerabilidade ao HIV. Ao disseminar estigma sobre o usuário de PrEP, impõe mais uma barreira aos possíveis beneficiários do método.

Entendemos que o acesso à PrEP é peça importante no combate à epidemia de HIV/Aids e, consequentemente, dos direitos sexuais e reprodutivos. É também uma grande conquista da política de saúde pública brasileira. Não pouparemos esforços para esclarecer a população sobre as melhores formas de combater a transmissão do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis.





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