Infectologistas alertam que bactérias super-resistentes já são problema de saúde pública


Pelo menos três tipos de bactérias mutantes, resistentes à maioria dos antibióticos, se espalharam pelos hospitais brasileiros nos últimos anos e se tornaram causa importante de infecção hospitalar e problema de saúde pública. São elas a Klebsiella pneumoniae, o Acinetobacter sp e a Pseudomonas aeruginosa.,

O alerta é da Sociedade Paulista de Infectologia, que decidiu colocar na programação científica do seu congresso anual, que começa dia 21 de maio no Centro de Eventos e Convenções do Hotel Bourbon, em Atibaia, tanto mesas redondas como conferências seguidas de debate sobre como enfrentar esse novo desafio. No congresso serão abordados desde a epidemiologia das infecções causadas por estas bactérias, como também o diagnóstico, como interpretar o teste de sensibilidade, a importância da colonização e mais importante, como tratar estas infecções e como implementar medidas de controle dentro dos hospitais.

Para a especialista Thaís Guimarães, vice-presidente da SPI, a questão das super-bactérias interessa a todos os médicos de quaisquer especialidades que tem pacientes internados em hospitais, principalmente após cirurgias e pacientes com depressão do sistema imunológico, quando a vulnerabilidade do organismo é maior. Para se ter uma ideia da virulência das bactérias super-resistentes, os Estados Unidos registram 23.000 óbitos causados por 17 microrganismos resistentes à maioria dos antibióticos a cada ano e o problema atinge mais espécies diferentes.
        
A Klebsiella pneumoniae, uma bactéria com grau de resistência avançado tornou-se resistente a uma classe importante de antimicrobianos, os carbapenemicos, ganhando a denominação de KPC (carbapenemase da Klebsiella pneumoniae). Este advento é relativamente recente, já que a KPC foi descrita pela primeira vez em 2001.

Thais Guimarães relata que a KPC foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2005, mas foi em 2010 que ocorreu uma grande disseminação desta bactéria pelos hospitais brasileiros, o que levou a Anvisa a emitir uma nota técnica a respeito do problema. Atualmente a KPC está presente em praticamente todos os hospitais brasileiros, daí a importância das medidas de controle em vários níveis: local, municipal, estadual e federal, pois as infecções causadas por estas bactérias são realmente um problema de saúde pública.

O presidente da SPI, Mauro Salles, diz que o alerta da Sociedade que dirige se faz necessário  para prevenir a disseminação das superbactérias nos hospitais, para o que é preciso aumentar e implantar medidas como a higienização das mãos e os cuidados de desinfecção e antissepsia , primordialmente nas UTIs.

Além disso, o alerta objetiva chamar a atenção dos médicos  para o surgimento de infecções por bactérias resistentes, que é um problema a ser resolvido com o apoio dos infectologistas, que são os profissionais que podem discutir as poucas opções terapêuticas para vencer cada uma dessas bactérias, que resistem à maioria dos antimicrobianos.

Justamente pela gravidade do problema o congresso da SPI não receberá apenas infectologistas, mas está aberto à participação de especialistas de outras áreas, que podem se inscrever no site do congresso, www.infectologiapaulista.org.br/congresso2014/inscricao.php , que ainda aceita inscrições prévias com desconto substancial.

Thais Guimarães diz que outra preocupação é a grande afluência de turistas estrangeiros aguardados no Brasil por causa da Copa do Mundo. Se um viajante mesmo sadio estiver  colonizado no trato intestinal por uma super-bactéria e  eventualmente vier a adoecer e ser internado no Brasil, a infecção poderá se declarar e em consequência o microorganismo poderá ser disseminado pelo hospital. Para evitar tal situação, há necessidade de atenção redobrada ao atendimento dos turistas e intensificação das medidas de prevenção e controle nos hospitais.