Congresso de Infectologia discutirá medicina do viajante, à luz da epidemia de ebola na África


Os 134 casos da febre hemorrágica ebola na Guiné e países vizinhos, com 84 mortes confirmadas até quinta-feira (dia 3) comprovam a necessidade dos médicos brasileiros estarem atentos às doenças emergentes, que serão discutidas na sessão 'Medicina dos Viajantes' do congresso da Sociedade Paulista de Infectologia, marcado para 21 de maio, no Hotel Bourbon de Atibaia.

A colocação é da professora Nancy Bellei, da Escola Paulista de Medicina e decorre da noticia de que a embaixada brasileira na Guiné está atenta à evolução da epidemia que, se agravar, fará com que o Brasil repatrie em avião da FAB os 70 brasileiros que vivem naquele País. O administrador de empresas Juraci Pimentel, que há três anos trabalha na Guiné, diz que sua equipe de 15 brasileiros está bastante preocupada e seguindo as recomendações, desinfetando constantemente as mãos, evitando aglomerações e fazendo as refeições em casa.

A porta-voz dos Médicos sem Fronteiras, Anja Wolz, disse que o vírus de ebola da Guiné foi identificado como sendo da cepa Zaire, com índice de mortalidade de até 90% e que embora não haja cura para a doença, "a alta mortalidade pode ser reduzida de 10% a 15% com adequada assistência médica".

A SPI já tinha alertado, recentemente, para o risco potencial que o Brasil enfrentará ao receber 600 mil visitantes de todo o mundo que virão para a Copa, entre os quais eventualmente poderão estar pessoas contaminadas com vírus perigosos, mas que ainda não ocorrem no território nacional.

É o caso do Coronavirus, que já chegou à Itália, França e Jordânia, do Chikungunya, que está fazendo vítimas no Caribe e cujo transmissor é o Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e que abunda no Brasil e o vírus Influenza A (H7N9), registrado em14 províncias chinesas.

CONHECIMENTO DA DOENÇA
Em relação ao ebola, o infectologista Celso Granato, também integrante da Sociedade Paulista de Infectologia, explica que com a crescente globalização, doenças emergentes em outros Continentes podem eventualmente chegar rapidamente ao Brasil, cujos especialistas precisam acompanhar de perto as informações disponíveis.

"Embora o risco exista, não é iminente", afirma ele, pois como os hospedeiros do vírus são morcegos frugívoros que a população eventualmente ingere como fonte de proteína, ele é predominantemente rural, não das cidades, e o problema é o altíssimo índice de mortalidade e a facilidade da transmissão entre os seres humanos, que faz com que os médicos e enfermeiros estejam entre as pessoas infectadas pelos pacientes que atendem.

A professora Nancy Bellei diz que no caso da Copa, das Olimpíadas e de outros eventos que trarão grande número de estrangeiros ao Brasil, será importante contar com um sistema de identificação de pessoas que chegam com febre alta, crise de vômito e outros sintomas aos aeroportos.

"Nesses casos cabe ao clínico levantar a rota percorrida pelo doente, pois dependendo do local de onde veio é possível fazer um diagnóstico precoce e fazer a intervenção correta, baseando-se também nos laboratórios de pesquisa especializados que, no Brasil, tem condição de fazer primeiras análises", embora sempre as amostras de pessoas suspeitas devam ser encaminhadas aos centros internacionais, Atlanta, por exemplo.

Esse procedimento foi adotado pelo Canadá, por exemplo, que recebeu dois pacientes com sintomas que pareciam indicar ebola, por Serra Leoa e, ainda há dois dias pela Liberia, que detectou um caso suspeito no início da semana, de um caçador que não esteve na Guiné nem em contato com qualquer doente e que morreu de febre hemorrágica, o que pode indicar que a epidemia está se espalhando.

O presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, Mauro Salles, diz que a importância desses vírus emergentes faz com que o conhecimento sobre as doenças que causam extrapole a área dos infectologistas, motivo pelo qual o congresso da SPI estará aberto para os clínicos gerais e médicos de outras especialidades, já que os novos desafios tornam a Medicina ainda mais multidisciplinar.